18/05/2012

SERRA DO AÇOR

                                        Meãs - uma aldeia emoldurada pelo Picoto de Cebola
                                        Piódão - um aspecto da sua ribeira na piscina fluvial
TRAVESSIA DA SERRA DO AÇOR
Esta é uma das mais desconhecidas serras de Portugal, mas talvez uma das mais belas. Tem uma beleza própria, quer pela vegetação que a cobre em grande parte da sua área, matos, bosques de pinheiros, castanheiros, carvalhos ou eucaliptos em certos locais, quer porque nos permite avistar noutras perspectivas, serras bem conhecidas como a Estrela, a Lousã, o Caramulo, a Gardunha que são as suas vizinhas mais próximas, mas ainda a vista alcança o Alentejo, a Espanha e as imediações do Douro.
A Serra do Açor está ligada à Estrela nas Pedras Lavradas e à Lousã pelo Penedo de Góis. Tem duas cumeadas separadas pelo vale do rio Ceira, afluente do Mondego, e situa-se entre os rios Alva e Zêzere, constituindo um maciço com cerca de 35 Km de comprimento por 30 de largura em linha recta, aproximadamente. O seu ponto mais elevado é o Picoto de Cebola, com 1418 metros de altitude e tem outros bem altos como o pico de S. Pedro do Açor, a Rocha, O Colcurinho e o Gondufo. Estende-se pelos concelhos da Covilhã, Seia, Oliveira do Hospital, Arganil, Pampilhosa da Serra e Góis.
A serra tem algumas áreas que, pela sua riqueza e características vegetais fazem parte da Rede Natura: destacam-se o Picoto de Cebola, S. Pedro do Açor, os Penedos de Fajão, o azinhal das Meãs e, pela sua massa vegetal e riqueza florística, a Mata da Margaraça: esta Mata constitui uma das raras e mais significativas relíquias que restam da floresta que cobriu a maior parte das encostas de xisto do centro de Portugal. A Mata da Margaraça, com uma superfície de cerca de 68 hectares (propriedade do ICNB), situa-se numa encosta bastante declivosa de exposição N-NW e com uma altitude que varia entre os 400 e os 750 metros. Apresenta uma composição vegetal única, encontrando-se actualmente rodeada por zonas de mata e campos agrícolas. 
O percurso inicia-se em Casegas, aldeia do concelho da Covilhã, situada nas margens da ribeira que separa as serras da Estrela e do Açor, e que nasce na confluência destas serras, atravessando o primeiro pico, o Pigeiro, nos limites desta freguesia e subindo ao Gondufo, até atingir o maciço de S. Pedro do Açor, começando então a descer para o Piódão, subindo desde os 400 metros de altitude em Casegas, até aos cerca de 1300 no Gondufo e no Açor. Este percurso é uma parte daquele que há muitos anos as gentes de Casegas faziam pela serra, quer quando, em Julho, iam à romaria da Senhora das Preces, quer quando, pela Rota do Sal, se dirigiam aos mercados de Coja, Oliveira do Hospital ou Arganil.
As pessoas desde muito cedo povoaram esta serra: temos vestígios do Neolítico e da Idade do Bronze em muitos locais, são as gravuras rupestres, efectuadas provavelmente por populações de pastores nómadas. Da época romana há vestígios de mineração e na Idade Média, os nossos reis e os grandes senhores feudais, procurando povoar todo o reino, deram forais a várias povoações e procuraram promover o estabelecimento de gente, oferecendo regalias aos moradores. Se assim não fosse, como se explicaria o imenso número de aldeias que pontuam esta serra em todos os vales onde a fertilidade da terra e a água oferecem algumas condições de vida, embora pouco atractivas? Como se explicariam povoações como o Piódão, a Covanca, a Malhada Chã, os Chães de Égua, implantadas em locais inóspitos, de difícil acesso e de pouca terra fértil? Não foi apenas a pastorícia e a apicultura, mas também a cultura do castanheiro, cereais, batata e no século XIX a exploração do carvão de torga, a exploração mineira (Minas da Panasqueira) que deu algum rendimento aos serranos. A vida era difícil e muitos tiveram que emigrar ao longo dos últimos 100 anos, mas há futuro aqui: hoje é o turismo (pedestrianismo, turismo de ambiente e natureza, turismo cultural…) e algumas actividades como a apicultura, a pastorícia (caprinicultura), a caça, em que a conjugação da tradição com a modernidade parecem fazer a estrada do futuro. Apesar de as cumeadas terem sido transformadas, pela instalação de centrais eólicas de produção de energia, a beleza da serra mantém-se.
Casimiro Santos

Sem comentários: